sábado, 12 de maio de 2007

TREBLINKA - Por Lívia Rangel*

Com baixo e bateria no mesmo plano que os outros instrumentos, a guitarra das bandas pós-punks optam por explorar mais os timbres que o barulho, puro e simples. Os acordes cheios e distorcidos do punk deram lugar a dedilhados leves, riffs simples, mas eficientes, e levadas que remetiam àquelas que se produzia com riqueza ímpar na psicodelia dos anos 60.
Mesmo advindo do punk, o pós-punk difere desse em vários aspectos, a começar pela temática lírica. Essa passa a ser reflexiva, ao invés de acusativa. Enquanto o punk grita contra o sistema e as mazelas de nossa sociedade, o pós-punk se retrai em seu mundo, não raro procurando em si mesmo os problemas por que passa.

Daniel Ash, guitarrista do Bauhaus, apresentava uma anti-música, emitindo sons, timbres, harmônicos e efeitos de pedal de guitarra, considerada por muitos o marco zero do gótico. Bauhaus (Kevin, Daniel e David diante dos olhos de Peter Murphy)

Aqui em terras tupiniquins, houve uma associação com esse "posterior", sendo conhecido como pós-punk (ganhando o acento gramatical da língua portuguesa). Não sem antes haver uma pequena polêmica: por conta das características próprias do estilo pós-punk, não podendo chamá-lo de punk, nem muito menos de gótico, optou-se por nomeá-lo com uma das características desse som: dark. Realmente, a predominância da obscuridade (tanto instrumental quanto temática) faz com que essa classificação não seja lá tão falsa, mas é pouco abrangente e limitada, por conta da riqueza do leque pós-punk. Dizer que Smiths ou Echo and The Bunnymen, ou ainda as brasileiras Muzak e Kafka, por exemplo, eram darks, não é de todo falso, mas passa longe de definir com propriedade o som que essas bandas apresentavam. Mais recentemente, optou-se por chamá-las de darkwave ou cold wave, que não passam de variações do ("apenas") dark.Uma banda da cena que tinha influências do pós-punk de bandas como Bauhaus e Joy Division era a Treblinka. Surgido no apagar das luzes da década, em 1989, o grupo seguia uma linha dark misturando peso, típico de bandas que os influenciavam como Metállica e Sepultura. Após ter saído da banda Elite Marginal, Artur Ribeiro, que havia ido morar em São Paulo, recebe um telefonema do seu irmão, um dos quatro músicos da família, convencendo Artur a voltar a Salvador e participar de um trabalho com ele. “Minha condição para entrar nesta banda era que a gente gravasse nosso disco” relembra o vocalista. E foi o que aconteceu. Em um ano a Treblinka, já reconhecida e bem falada na cena, lançava o primeiro LP independente da Bahia, o Indução Hipnótica, com 13 músicas. A banda, elogiada pelo jornalista Eduardo Bastos, é considerada por muitos críticos como uma das melhores bandas de rock de todos os tempos na Bahia. A banda chegou a ter uma mulher nos vocais, antes da chegada de Artur. A formação mais conhecida foi com Artur Ribeiro no vocal. Segundo o jornalista Zezão Castro, jornal A Tarde, Artur é considerado um dos raros bons letristas da geração rock 80 de Salvador. Indução Hipnótica foi gravado no bairro da Liberdade já na década de 90. Na época todos os jornais teceram críticas elogiosas ao disco, além disso, a banda foi referência durantes meses em jornais como Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, Correio Brasiliense, Jornal de Brasília, Zero Hora, revista Bizz; e foram citados em diversas matérias em outros estados e convidados para fazerem shows como um mega evento em Aracaju. Neste show a Treblinka dividiu palco com bandas de peso como Capital Inicial, Ira!, Barão Vermelho, entre outros para um público de aproximadamente 10 mil pessoas! O cachê foi de 3 mil dólares.
“Fomos convidados pra tocar em três shows em Brasília. Foram nos buscar no aeroporto com uma limusine Rolls Royce gigante! Em São Paulo, quando lançamos o disco, tivemos um programa de uma hora na rádio Brasil 2000 e nossa música de trabalho, Fim da Infância, tocava sempre na Transamérica e na Brasil 2000. Aqui em Salvador nossa música era ouvida em várias rádios como a Transamérica FM, Educadora FM e 96 FM”.
No lançamento do disco Indução Hipnótica, em Salvador, o Ira! tocou junto com a Treblinka em um espaço na orla (atual Fashion Club) que acabou por não suportar a quantidade de pessoas. A banda teve que produzir outro show de lançamento que também ficou superlotado. “Fizemos vários em São Paulo, Rio, Minas, Brasília, Aracaju e cidades do interior. Em Recife, Chico Science abriu um show da banda”. Para manter o som afiado a banda ensaiava diariamente em diversos estúdios da cidade, entre eles o estúdio de Nicolau Rios.
Com o lançamento do disco, o grupo caiu nas graças da mídia baiana, aparecendo pelo menos uma vez por semana em programas locais da TV Aratu (filial da Globo), da TV Itapoã (SBT) e da TVE. O jornalista Hagamenon Brito (que ficou conhecido depois de brigar com Marcelo Nova por tecer crítica sobre a banda), chegou a afirmar “esse disco (Indução Hipnótica) é o lançamento mais importante para o rock da Bahia desde o lançamento de Meu Primo Zé do Camisa de Vênus”.
Artur depois de deixar a Treblinka, participou de outra banda, a Cravo Negro junto com o guitarrista Luisão, ex-Penélope. Nesta banda gravou um disco antes de retornar a São Paulo onde permaneceu por 10 anos. O disco considerado cult para alguns críticos foi gravado no estúdio Tapwin, na Barra.


*Este texto é parte integrante do livro-reportagem “ROCK 80 EM SALVADOR:
HISTÓRIAS DE UMA DÉCADA QUE NÃO SE PERDEU”
escrito e organizado pela jornalista Lívia Rangel.
O livro ainda não foi publicado.

8 comentários:

Anônimo disse...

LEgal,

muita das coisas contadas aqui teremos documentos :) colocados no blog. Legal :)

espero que continue postando val.

abraços

PS: parei de postar pq to sem scaner mas breve volto

Raul

artur disse...

Valeu Raul! Estou coletando material tb pra postar!
Abçs!

Anônimo disse...

Por que vocês escolheram esse nome prá banda?
Vocês têm noção do que esse nome representa, históricamente?
Vocês sâo adeptos do nazismo?

WILLY W disse...

A historia da participação da TREBLINKA no primeiro palco do Rock no Carnaval da Bahia, tem desdobramentos tal vez desconhecidos por você, eu estava na época fazendo parte da banda,com Ordep, Dadá,Thomas e Dui Miranda (depois substituido por Fernando Nunes,que eu tive o prazer e a honra de poder convidar para fazer parte do grupo, para gravarmos na WR e fazer o show de abertura da volta do CAMISA DE VÊNUS na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, show este memorável e registrado em video por Marcão Fantasma...)e lembro perfeitamente como e porque a TREBLINKA tocou SEM NECESSIDADE de participar da seleção com as 40 "bandas" na Associação Atlética....podemos conversar e colocar tudo claramente para que a verdade seja conhecida e a historia fique completa.
Um servidor
Willy Wirth.

Ricardo pixô disse...

O Treblinka realmente fez parte da história do Rock baiano, com um som e letras perfeitas, toda vez que ouço é uma emoção muito grande, parabéns.

Dadá Jaques disse...

Grande rapazida!

Dadá Jaques disse...

TREBLINKA ....
trabalho maravilhoso!!!!

Dadá Jaques disse...

TREBLINKA ....
trabalho maravilhoso!!!!